terça-feira, 28 de abril de 2015

O agressor sou eu

Às vezes acho que é lixado entrar em loop tantas vezes. Mas de cada vez consigo sair um pouco mais rápido e ficar de olhos abertos durante a queda.  A ligação com todos os pássaros feridos não é por acaso. Porque também eu perco a voz, e a razão quando sou confrontada com alguém de coração fechado e isso é terrivelmente frequente na sociedade em que vivo. Reconheço que só sei explicar a quem já compreende, não sei lidar com agressividade a não ser tornado-me cruel e fria, desligando-me dos sentimentos. E tenho imensa vergonha quando faço isso. Tenho medo de me tornar o agressor. 

Já não é o outro que me maltrata, agora o agressor sou eu. Quem ainda não se ouve, ainda não se cuida, ainda não se respeita, ainda não toma tempo para cuidar de si. Tenho a tarefa de abraçar o agressor em mim. No meu trabalho tenho olhado para o agressor, a sua história, a sua dor e a necessdiade de ser amado. Deixa ver se consigo levar isso para dentro e cuidar do meu agressor interior, do que tem uma vítima de estimação: eu. E tentar fazer a ponte e criar uma aliança entre estas duas partes minhas que tentei abafar cuidando só e apenas dos outros, tornado-me a salvadora: a vitima e o agressor. Tentar que essar partes compreendam que fazem parte da mesma alma, e não podem viver uma sem a outra.
 
E é para cuidar dessa criança que quero aprender a defender-me, a defendê-la, desdemonizar (esta palavra existe?) a minha parte que se zanga que se enfurece, que sabe lutar, e como...

Espirais e mais espirais..

Há muitas coisas que costumo dizer aos clientes mas é incrivel o quão fácil é esquecer-me quando entro em modo pânico. 

Uma das que não devia esquecer é a de que e evolução é um processo espiralado, quando pensamos que estamos a andar em circulos porque “recaímos” no mesmo problema, pode querer dizer que estamos a voltar ao mesmo ponto na volta seguinte da espiral. 

A maior parte dos bloqueios que temos são demasiado dolorosos para se poderem dissolver de uma só vez, é preciso voltar e voltar de cada vez um bocadinho mais fundo, um bocadinho mais claro.
 
Também há detonadores, coisas pequenas, que nos levam de volta a sensações intoleráveis da infância. 

Sabem aqueles momento em que nos comportamos “como se” tivessemos três anos, ou dez anos, ou fossemos adolescentes...?   

Por muitas voltas que se dê as estratégias de criança vão estar sempre lá quando o stress é demais. Quando nada funciona entramos em piloto automático. 

Tenho a sensação de que imensas vezes não queremos lembrar por ter medo de voltar a cair dentro do caldeirão. E é sensato. 

È dificil olhar para esta criança amuada e violenta, sobretudo apavorada e não fugir. Ficar comigo/ela e reconhecer que não está maluca.  Destapar a ferida. Mesmo com a vergonha e a sensação de possivel humilhação.